A criação de um protótipo é o primeiro passo para dar vida a um produto original, seja ele físico ou digital. Neste texto, saiba como fazer um protótipo e destacar sua empresa da concorrência
Muitas empresas nascem empenhadas em encontrar uma vantagem competitiva para se diferenciarem de seus concorrentes, e parece não haver melhor caminho para isto que não seja gerando algo exclusivo ao seu cliente.
Tanto é que, segundo Carlos da Costa, secretário do Ministério da Economia, já está constatado que “75% do valor de um negócio está nos valores chamados intangíveis –aqueles que não podem ser tocados, como a marca, a estratégia, as patentes, a boa vontade e a fidelidade dos clientes”. Ou seja, comercializar produtos originais é uma excelente aposta para sair na frente da concorrência.
Mas aí vem a pergunta: como criar um produto do zero? A imagem do inventor criando suas invenções sempre pareceu algo mais da ficção do que da vida real.
No entanto, a realidade é que ser pioneiro e criar um novo produto poderia ser complicado anos atrás; no entanto, hoje a história é outra.
O barateamento do processo de desenvolvimento de protótipos de produtos, com a chegada das ferramentas de prototipagem e ter à disposição máquinas de fabricação digital, facilitou a concepção do protótipo até a sua produção.
E isso fez com que mais empreendedores pudessem tirar do papel ideias que só existiam em um bloco de notas.
Dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) indicam que cada vez mais pequenas e médias empresas (PMEs) têm experimentado criar seus próprios produtos.
Em 2020, de acordo com o INPI, houveram 275 mil pedidos de abertura de novas marcas, sendo que 126 mil foram realizados por pequenos negócios –um aumento de 19% em relação ao ano anterior, segundo o órgão.
Um produto para chamar de seu
A propriedade industrial é um conjunto de regras criadas para proteger uma invenção e garantir que ela possa ser explorada economicamente por seu autor. No Brasil, os criadores que desejam obter um registro de exclusividade devem submeter sua criação ao INPI.
Na instituição é possível realizar os seguintes tipos de registros:
- Marcas: para produtos ou serviços já existentes;
- Patentes: para invenções de produtos ou criação de processos produtivos;
- Programas de computador: para softwares ou sistemas digitais;
- Desenho industrial: para proteção da aparência de um produto;
- Indicação geográfica: para casos em que a característica de um produto é conhecida por seu local de origem.
A estimativa é que o processo de registro leve menos de um ano.
Com tudo isso, idealizar e produzir um protótipo tornou-se um processo factível para qualquer pessoa.
Com um conceito em mente, as ferramentas e a mão de obra certas, os empreendedores têm tudo o que precisam para seguir em frente com aquela ideia de um tênis futurista, uma guitarra com mais ou menos cordas, uma joia personalizada e, claro, um aplicativo.
O que é um protótipo?
O protótipo é o primeiro passo para criar a versão física de uma ideia. Trata-se de uma simulação do produto que até então só existia no esboço, antes de enviá-lo para a produção em larga escala.
Com uma versão visual e palpável, define-se a viabilidade de um produto ao observar se ele atende às necessidades dos clientes –sessões de feedbacks permitem a melhoria do produto–, e fica mais fácil compreender se o valor comercial da sua fabricação é viável.
No passado, a complexidade na criação de um protótipo de produto pode ter inviabilizado muitas tentativas devido ao custo elevado. Porém, a tecnologia evoluiu e, atualmente, produzir um protótipo é mais acessível por meio de softwares CAD 3D, que possibilitam a modelagem de sólidos, e recursos para impressão desses modelos, como impressoras 3D e cortadoras laser.
- Impressora 3D: permite transformar um modelo digital em um objeto físico a partir do derretimento de materiais como plástico.
- Fresadora CNC: com uma ponta cortante, ela esculpe precisamente blocos ou chapas de diferentes tipos de materiais.
- Máquinas a laser: por meio de um feixe de luz, é capaz de derreter o material para ações de gravação, marcação e corte.
Juntamente com a evolução da prototipagem, a cultura maker ganhou força. Baseada no conceito “do it yourself” (“faça você mesmo”, em tradução), a este movimento estimula as pessoas a criar soluções e compartilhá-las para que mais gente tenha acesso, podendo colaborar com a evolução de uma ideia.
É comum que empreendedores com mentalidade “maker” tirem seus protótipos do papel em Fab Labs, que são espaços colaborativos de fabricação digital onde o público pode utilizar equipamentos de prototipação –confira um mapa de Fab Labs no Brasil.
Uma vez com o protótipo em mãos, deve ser colocado sob teste aos olhos dos usuários. Aí está uma das grandes vantagens da prototipagem: experimentar em tempo real o produto e receber feedback direto do público-alvo. Isso, além de antecipar informações valiosas para os ajustes e adaptações necessários ao modelo, abre a possibilidade de errar.
Como fazer um protótipo de um novo produto?
Qualquer protótipo de produto, seja ele digital ou físico, começa com uma ideia na cabeça a ser destrinchada em uma sessão de brainstorm.
Muitos criadores se baseiam no conceito de design thinking para a criação de um produto. Trata-se de uma abordagem que organiza o processo criativo, centrando-se especialmente nas pessoas que irão utilizar um produto ou serviço. Para a etapa de colaboração e reunião de insights, é possível utilizar ferramentas de inovação e sistemas de gestão de ideias.
É importante que a ideia esteja fundamentada no seu negócio. Mas, atenção! Isso não deve ser traduzido como fator limitante. Pensar “fora da caixa” é parte essencial do processo de ideação. A conformidade com o modelo de negócio da empresa se dá na esfera estratégica, a fim de que, ainda que seja inovador, o protótipo siga os planos estratégicos da organização.
O que também pode variar no protótipo é a sua fidelidade. Em função especialmente da finalidade, mas também do orçamento e dos recursos utilizados, um protótipo pode ser de baixa, média ou alta fidelidade.
Um modelo de alta fidelidade é o mais fiel possível à versão final prevista do produto e, portanto, é o mais indicado para testes de usabilidade. Já um protótipo de baixa fidelidade configura uma espécie de esboço do produto, com limitações, porém suficiente para transmitir o conceito da ideia.
Então, o ideal é definir primeiro a finalidade do modelo antes da fase de prototipagem propriamente dita para ajustar o orçamento e procurar os recursos adequados à produção.
No final, o que vale é tentar, errar e tentar de novo. Uma hora aquele rascunho se torna um produto de verdade.
Para se ter uma ideia, até quem sabe mesmo como fazer um protótipo trabalha sob tentativa e erro. Exemplo disso é o estúdio de design Skyline, responsável por criar brinquedos para o filme Cars, da Pixar. Durante um ano, os funcionários da empresa geraram 4 mil ideias de produtos relacionados ao filme; na hora de criar o protótipo, esse número foi reduzido para 230 e apenas 12 produtos foram desenvolvidos.
Os diferentes tipos de protótipos
Protótipos de produtos físicos
A popularização das impressoras 3D e outros equipamentos levou a prototipagem de produtos físicos a outro patamar. O processou ganhou agilidade e qualidade, além de ficar mais simples e muito mais barato.
E o que dá para fazer por meio dos equipamentos de prototipagem? Praticamente tudo. De móveis e roupas a casas e até tecidos e órgãos humanos.
Neste contexto, a empresa EntregAli conseguiu dar luz a um produto inovador. A marca idealizou e criou um guarda-volumes automatizados para retirada de encomendas, especialmente útil em condomínios que não contam com portaria. Em um Fab Lab, os empreendedores da EntregAli puderam montar protótipos em MDFs, programá-los e então testá-los.
Os passos para chegar a um protótipo de um produto físico são:
- Identificar uma oportunidade de produto;
- Analisar o mercado e verificar as conexões com o modelo de negócio;
- Fazer um brainstorming de ideias;
- Modelar o produto usando softwares CAD 3D e ferramentas de prototipagem ;
- Criar uma versão 3D do protótipo usando equipamentos de fabricação digital.
Dependendo do produto a ser criado, como uma linha de camisetas, programas de design gráfico podem ser usados em combinação com os de modelagem para melhorar a estética do produto, por exemplo.
Protótipos de produtos digitais
O processo de criação do protótipo de um produto digital difere do de um produto físico tanto na fase de modelagem como, obviamente, na produção. A verdade é que, para um modelo digital, essas duas fases se mesclam, virando uma só.
No caso da criação de produtos ou serviços digitais, as ferramentas de wireframe e as ferramentas UX são altamente recomendadas por permitirem avançar com o desenho e a usabilidade do protótipo.
Plataformas de desenvolvimento low-code e softwares design de apps podem ser usados para desenhar protótipos mais simples, sem necessidade de programação mais complexa. Entretanto, para alcançar níveis mais altos, podem ser necessários sistemas avançados, como softwares para criação de sites e programas para desenvolver aplicativos.
Se antes havia muitas restrições sobre como fazer um protótipo, hoje a trajetória de inovação está mais acessível para qualquer empreendedor que esteja disposto a lançar um produto exclusivo.